segunda-feira, 6 de maio de 2013

FEIPA CINE: Além dos 100 escalpos nazistas de "Bastardos Inglórios"



Bom dia, boa tarde, boa noite gente bonita!
Eu sou novo aqui no Blog dos Feipa, assim como essa coluna que estou trazendo para cá. Meu nome é Daniel e esse é o FEIPA CINE!



Para inaugurar o cantinho da sétima arte aqui do blog, selecionei um dos meus filmes favoritos para fazer uma abordagem interessante de comparação do roteiro do filme com o seu produto final. Terminei de ler o roteiro original em inglês dois dias atrás e notei diferenças brabas; e é sobre isso que vamos falar hoje.

Para entrar no clima, dá play nisso aqui:


Para aqueles que não conhecem, "Bastardos Inglórios" é um filme escrito e dirigido por Quentin Tarantino, o mesmo monstro que fez "Pulp Fiction", "Cães de Aluguel", "Kill Bill" e recentemente, "Django Livre". Quentin é famoso pelos seus roteiros não lineares, onde ele trabalha histórias diferentes separadas em capítulos, que se cruzam no fim do filme culminando num gran finale primoroso. Com "Bastardos Inglórios" não poderia ser diferente.

O filme se passa na Europa (mais precisamente na Paris ocupada pelos nazistas) durante a Segunda Guerra Mundial. Os Bastardos são uma força especial do exército norte-americano formada apenas por judeus com um único objetivo: matar nazistas. Parafraseando o discurso do Tenente Aldo Raine, interpretado magnificamente por Brad Pitt:

"E os alemães vão ter nojo de nós
E os alemães vão falar de nós
E os alemães vão ter medo de nós
Os nazistas não tem humanidade
Eles precisam ser destruídos."

É senhores, o ritmo é esse.

MAS ENTÃO, vamos ao que interessa: o roteiro.
Quentin demorou 6 anos para terminar o roteiro de "Bastardos Inglórios". O último tratamento (versão final do roteiro) foi fechada em 02/07/2008 e o filme lançado no final de 2009. Quentin considera esse filme a sua grande obra prima, embora pareça que o roteiro não foi 100% transformado em filme.

ATENÇÃO: A PARTIR DESTE PONTO O TEXTO PODE CONTER SPOILERS

O primeiro capítulo, "Once upon a time... in nazi occupied France" (Era uma vez... numa França ocupada por nazistas) se mantém o mesmo.



Uma visita do Cel. Hans Landa (interpretado pelo austríaco Cristoph Waltz, vencedor do Oscar® de Melhor Ator Coadjuvante por este filme e "Django Livre") à fazenda do Monsieur LaPadite em busca da família judia dos Dreyfus, a qual ele extermina logo após um bom diálogo de terror psicológico. A filha mais velha da família, Shoshanna Dreyfus, vê toda a sua família ser baleada na sua frente e consegue fugir com um único desejo em mente: vingança.

Já no segundo capítulo, "Inglorious Basterds" ("Bastardos Inglórios, dã), é propriamente a apresentação dos 9 soldados matadores de nazistas e de seus "divertidos" métodos de trabalho.




É aqui que começamos a perceber as primeiras diferenças do roteiro e do filme: existem cenas no roteiro que não entraram no filme e outras que entraram no filme de uma maneira diferente e é aqui que vem a primeira: intercalado com essa cena dos Bastardos interrogando, matando e torturando um grupo de oficiais da S.S., há a cena em que Shoshanna chega em no cinema de Emanuelle Mimieux em Paris que ela vai tomar 3 anos depois. Acontece que essa chegada dela se passa 10 dias depois do massacre de sua família. Após a sessão que ela foi "assistir", a dona do cinema, Emanuelle Mimieux, pergunta o que ela está fazendo na sala ainda depois que os créditos já acabaram. Shoshanna conta sobre o ocorrido de 10 dias atrás e Emanuelle fica sentida com a história e resolve ensinar Shoshanna a operar o cinema e a deixa morar lá, mesmo que contra a sua vontade já que esconder inimigos do Estado era um crime de guerra. Ainda nesse plano, temos uma sequência de Shoshanna fumando no terraço do cinema. Emanuelle e Marcel, funcionário do cinema, tiram o cigarro de sua boca e o apagam, e aí acabam dando um esporro nela por estar fumando num lugar que guarda uma coleção de 350 filmes de nitrato de 35mm, material altamente inflamável. Isso abre a cabeça de Shoshanna para elaborar o seu grande plano de vingança. Tal como temos cenas do roteiro que não entraram no filme, também temos cenas do filme que não estão no roteiro: o recrutamento de Hugo Stiglitz é uma delas (a melhor também).

No terceiro capítulo, "German night in Paris" (Noite alemã em Paris), já estamos dentro do filme de novo: 3 anos depois do episódio do terraço do cinema, Emanuelle Mimieux já morta (por doença) e Shoshanna com a sua identidade.



Estamos na cena que o soldado/astro de cinema Frederick Zöller aborda a judia no seu cinema e acaba por se apaixonar à primeira vista. E ela, claro, cagando pra ele. Frederick decide usar a sua influência de herói de guerra para transferir a grande premiére de seu filme "O Orgulho da Nação" para o cinema de Shoshanna. Sendo assim ele marca um encontro com seu chefe, Joseph Goebbles e um dos grandes líderes da Gestapo: Major Hellström. Quando estão todos juntos, ele resolve meter a Shoshanna no meio da mesa para negociar a transferência da premiére. A conversa segue normal, ATÉ QUE o Cel. Hans Landa adentra o recinto e se junta à mesa. Em um dado ponto dessa conversa, Shoshanna e o Cel. Landa são deixados à sós, e aí temos mais um grande papo de terror psicológico do coronel da S.S. com a judia fugitiva. A diferença aqui não é grande: no roteiro ela acaba se mijando de medo depois que o Cel. Landa sai da sala, e no filme ela só explode a cara de tanto chorar. Vale destacar também a figura do narrador: muito presente no roteiro, mas no filme em si ele teve mais de 75% de suas falas cortadas.

Agora no quarto capítulo, "Operation Kino" (Operação Kino), é que começam a rolar as diferenças mais descrepantes.



A única cena do filme que se passa na Inglaterra, com Hicox, um oficial inglês e a figura história de Winston Churchill teve seu conteúdo reduzido em 30%. Uma lástima. É nesse capítulo também que vemos cenas do envolvimento amoroso de Shoshanna e Marcel pela primeira vez, só que tem pelo menos 3 cenas deles juntos no roteiro enquanto que no filme só há uma. No filme nós vemos os dois se pegando lá pro final apenas e o relacionamento dos dois só brota no very end. Antes de entrarmos na La Lousianne (a taverna onde os Bastardos iniciaram a planejamento da Operação Kino), também tem cenas de Marcel e Shoshanna fazendo o filme da vingança: temos eles filmando, sincronizando o filme e levando num laboratório pra revelar a película (contra a vontade do fotógrafo, ou seja, na base da porrada). Agora, em La Lousianne, abrimos com uma cena de conversas entre os Bastardos que até aparece no filme, mas com parte do seu conteúdo cortado também. Agora no rabbit hole (expressão militar para operações de infiltração em espaços pequenos e fechados) temos os Bastardos seguindo missão com seu contato infiltrado que só aparece agora: Bridget Von Hammersmark, uma grande atriz alemã que se aliou aos ingleses. Tudo parece correr bem até um grupo de oficiais nazistas bêbados começar a criar confusão e o Major Hellström entrar em cena. A putaria começa quando um dos Bastardos encaixa uma Luger nas bolas do Major e cria uma espécie de duelo mexicano já que o Major também tem uma arma apontada pro saco do outro Bastardo que por sua vez também tem uma arma mirando no pênis do Hellström. Todo mundo acaba morrendo nesse tiroteio e só quem sobra é a atriz alemã e um dos oficiais bêbados. Até então, a cena corre conforme escrita no roteiro, com leves diferenças na negociação entre o pai de Maximillian e o Tenente Aldo Raine. A grande treta aqui é o caso Cinderella: um sapato que Bridget deixa para trás e é encontrado mais tarde pelo Cel. Hans Landa.

Finalmente, "The Revenge of the Giant Face" (A Vingança da Cara Gigante). É aqui que o circo pega fogo. Ou melhor, o cinema.

Antes de comentar sobre esse capítulo, reparem na cara da Shoshanna na tela em chamas...


Pouco familiar, não? Quentin se inspirou no filme "O Mágico de Oz" para fazer a vingança da cara gigante em "Bastardos Inglórios".

Talvez seja aqui temos as melhores diferenças entre o filme e o roteiro. É aqui que as histórias se cruzam: o plano de Shoshanna e a Operação Kino estão para se fundir. O cinema está lotado de nazistas, incluindo os oficiais de alto escalão como Goebbles, Herrmann, Bormann e até mesmo o próprio tio Adolfo. Se tudo der certo, a guerra acaba essa noite. De um lado, temos três Bastardos com bombas no tornozelo, prontos pra explodir o cinema. Do outro, uma pilha de 350 filmes de nitrato de 35mm atrás da tela de projeção com um fumante do lado, pronto pra incendiar o cinema. Os 3 Bastardos se infiltram como amigos italianos de Bridget. É aqui que temos, possivelmente, a cena mais engraçada do filme: 

No roteiro, é Shoshanna que vem checar os tickets de entrada 0023 e 0024 dos Bastardos, e não o Hans Landa. Essa seria a primeira e única vez que Shoshanna e os Bastardos se encontrariam cara-a-cara, mas isso infelizmente não entrou dessa maneira no filme. A cena da luta no banheiro também não foi escrita da maneira como foi filmada. "Dominique DeCocco" entra no banheiro servindo champanhe com um soco de calibre 9mm na cara de oficiais da S.S. quando na verdade era o Utivich que tinha ido dar um cagão (um belo pretexto para armar a bomba atrás da privada) e acabou sendo reconhecido pelos oficiais. No roteiro, a bomba que foi colocada por Hans Landa (!!!!) no camarote onde estava Hitler e seus amiguinhos importantes explode antes de Shoshanna dar o sinal para Marcel queimar os filmes de nitrato. Logo após a frase de Zöller no filme "Who wants to send a messagem do Germany?" (Quem quer mandar uma mensagem para a Alemanha?) é que começa o curta de Shoshanna narrando a sua vingança. No filme, só rola a bomba quando a sala já está em chamas faz tempo. Shoshanna e Zöller já estão mortos na sala de projeção após um atirar no outro. Agora vem a melhor adaptação do filme em relação roteiro: Hitler não morre com a explosão, são Utivich e Hirschberg que vão esvaziar dois pentes de MP5 nele até que tio Adolfo vire queijo suíço. Austríaco no caso.

O gran finale do filme se manteve o mesmo: Hans Landa capturou Aldo Raine e Donny Donowitz e os levou para a conclusão de seu real plano: se tornar um herói de guerra americano por ter "ganho" os créditos da morte de Hitler, Goebbles, Herrmann e Bormann e outros grandes nomes do alto escalão do Partido Nazista. Ele acaba negociando com os comandantes dos Bastardos, via rádio, nos Estados Unidos e acaba por negociar a sua "rendição". Os Bastardos concordam e seguem conforme o plano.
Quando eles estão pra cruzar a fronteira com o terreno inglês, Landa troca de lugar com Aldo no caminhão e é algemado. Aí é que os Bastardos provam que eles, de fato, não negociam com nazistas.

ALDO RAINE
Coronel Hans Landa, eu aposto que quando você chegar nas minhas terras você vai tirar esse uniforme, correto? Bom, nós não gostamos que vocês nazistas tirem seus uniformes, porque aí fica difícil de identificar vocês. Sendo assim, eu vou te dar algo que você não vai poder tirar.

ALDO RAINE

Sabe Donny, eu acho que esse trabalho deve ser minha obra prima.

E assim termina a versão tarantinesca da Segunda Guerra Mundial.
O FEIPA CINE volta semana que vem mais da sétima arte para o mundo lindo da Internet :)

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