segunda-feira, 13 de maio de 2013

FEIPA CINE: Os dois lados do centavo de Robert Rodriguez.


Saudações amantes da sétima arte: hoje eu trago para vocês um pequeno apanhado da carreira de um dos maiores cineastas independentes da história do cinema tex-mex. Señoras y señores, Robert Rodriguez.


Robert Rodriguez é americano nascido no Texas, em 1968. Como a maioria dos bons cineastas independentes dos Estados Unidos, Robert teve uma infância sofrida. Não apenas financeiramente, mas porque também ele era uma criança "deslocada". O cara era um sujeito de poucos amigos que nunca soube o que quer da vida, até 1981: diferente de muita gente que senta numa sala de cinema e diz após o filme "eu posso fazer isso", Robert disse outra coisa, ele disse "eu VOU fazer isso. Essa proclamação veio após a sessão de estreia de "Fuga de New York", de John Carpenter.

Com 12 anos, os pais de Robert e de mais 9 filhos (sendo nosso cineasta um dos filhos do meio) juntaram um cascalho e compraram uma câmera Super 8 de presente pro menino. Maravilhado com seu novo brinquedo, Robert viveu seus próximos anos fazendo filmes caseiros, usando seus irmãos de atores e ruas de Austin como cenário. No fim da década, após inúmeras sessões de seus filmes no colégio, seu pai conseguiu trazer para casa a grande maravilha tecnológica da época: um VHS; junto com ele o fabricante ainda deu uma câmera nova de brinde.

Em 1992, Robert Rodriguez fez o seu primeiro longa: "El Mariachi". $7.000 dólares, um spot, uma câmera 16mm, um violão e uma tartaruga. Era isso que Robert tinha para fazer seu primeiro grande filme.


Esse primeiro longa de Robert explodiu no Festival de Sundance (Festival norte-americano de cinema independente que costuma revelar grandes cineastas, Quentin Tarantino por exemplo). Quando você entra num festival de cinema independente com um bom filme, você abre os olhos de produtores de Hollywood por causa de uma habilidade bem específica e rara: fazer filmes bons E baratos. Com Robert não foi diferente. Entre 1993 e 1994, o cineasta estreante foi trabalhar como diretor em uma série de TV, a "Rebel Highway". Ao final de 94, ele já fazia seu segundo longa, um filme para TV cabeada chamado "Revanche Rebelde".

Depois dessa temporada na televisão, Robert Rodriguez volta para o cinema com o segundo capítulo da Trilogia do Mariachi. A fama conquistada pela sua vitória em Sundance e seu trabalho na TV juntaram pontos o suficiente para que ele pudesse escalar uma grande estrela espanhola de Hollywood para atuar no seu próximo filme: José Antonio Domínguez Banderas, ou simplesmente Antonio Banderas.


"A Balada do Pistoleiro" ("Desperado"), trouxe Robert de volta para o cinema com mais uma aventura mexicana de ação e tiroteios intermináveis. Desperado também trouxe a deliciosa mexicana Salma Hayek da tela da TV para a tela grande do cinema. Em questão de orçamento também, Rodriguez continuou seguindo a sua linha de cineasta barato: enquanto as grandes produções da época passavam da marca de 100 milhões de dólares em custo de produção, "Despeardo" foi rodado com apenas 7 milhões. Trabalhar com Antonio Banderas foi fundamental para a carreira de Robert, pois depois desse filme ia demorar ainda muito tempo para que os dois parassem de trabalhar juntos. 

Além de ter Banderas como seu amiguinho importante, tem outro que precisamos destacar, já que ele foi responsável por 3 dos próximos trabalhos de Rodriguez. Senhores, estamos falando de Quentin Tarantino.


Tarantino tinha um projeto em mãos que consistia em fazer um longa com 4 curtas dentro. A sua mania brilhante de fazer uma grande história quebrada em outras menores que vão terminar um final absurdamente fantástico, trouxe Robert Rodriguez para o seu lado. Mais uma vez com Antonio Banderas ao seu lado, Robert dirigiu um dos episódios do filme "Grande Hotel" (Four Rooms) em 1995.


Robert dirigiu o episódio "The Misbehavers" (Os mal-educados). Antonio Banderas interpreta um pai de família que tem um casal de filhos. Em plena noite de ano novo, Banderas sai com sua mulher pra acompanhar a virada do ano e larga seus dois filhos num quarto do hotel sobre a supervisão do carregador de bagagens, interpretado por Tim Roth. As crianças acabam negando os biscoitos e leite de Tim e trocam esse lanche por uma garrafa de vinho e um maço de cigarros pra acompanhar a programação pornô da TV do quarto. A confusão criada pelas crianças acaba fazendo com que Tim não receba pelo seu trabalho de "babá" e eles acabam também encontrando um cadáver de uma velha dentro do colchão da cama do quarto. Genial, né? Os outros 3 episódios foram dirigidos cada um por um diretor diferente, sendo o último deles dirigido por Quentin Tarantino.

Dando continuidade às aventuras muito loucas dessa duplinha do barulho, Quentin vendeu um de seus roteiros para Robert Rodriguez pelo valor mínimo exigido pelo Sindicato Norte-americano de Roteiristas: $1,500 dólares. Esse preço foi apenas um valor simbólico para que os dois pudessem ter o prazer de fazer seu próximo filme: "Um Drink no Inferno" (From Dusk Till Dawn).


From Dusk Till Dawn já aborda o lado mais trash dos dois diretores. Estamos falando aqui dos irmãos Gecko, personagens de Tarantino interpretados um por ele mesmo e o outro por um dos atores mais bem cotados da época, George Clooney. Os irmãos Gecko são dois ladrões de loja, apenas vivem roubando pra se sustentar. Essa série de roubos os leva a uma tentativa de assalto a um trailer de um padre, interpretado por Harvey Keitel. O filme começa de verdade quando os 5 (os irmãos Gecko, padre Jacob e seus dois filhos) cruzam a fronteira com o México e vão parar numa lanchonete/bar de beira de estrada que se chama Titty Twister. Nesse lugar é que vemos atores fazendo papéis pequenos, mas atores que vão ser importantes na próxima trilogia de Robert Rodriguez: Danny Trejo, Cheech Marin e Tom Savini. No Titty Twister também é que vemos a performance sexy de Salma Hayek, incorporada na personagem de Santanico Pandemonium. Depois da sua dança com a serpente, o lugar se revela ser um grande antro de vampiros mutantes e sedentos de sangue que trazem um final trash, caótico, divertido e violento ao filme.

Dois anos depois, em 1998, Robert Rodriguez partiu para seu próximo filme: "Prova Final" (The Faculty)

Robert fez uma pausa de 2 anos nos seus trabalhos para passar um tempo com a família e desenvolver ideias para novos filmes, enquanto ele recusava inúmeras propostas de Hollywood. Uma dia, chegou uma oferta irrecusável: um roteiro de Kevin Williamson, o mesmo cara que escreveu o aclamado "Pânico" ("Scream", 1996). Robert aceitou o papel de diretor e acabou fazendo o filme. No fim das contas, "Prova Final" é considerado o pior filme da carreira de Robert Rodriguez, tanto pela crítica tanto pelos fãs. Um dos motivos talvez seja o elenco: da grande panela de Robert, só a Salma Hayek esteve no filme. E fora ela, tinha o então ainda desconhecido Elijah Wood, futuro Frodo Baggins em "O Senhor dos Anéis" ("The Lord of the Rings", 2001, Peter Jackson).

Após o fracasso de seu último filme, Robert partiu para mais um intervalo, agora de 3 anos, para lançar então o seu filme mais bem sucedido de toda a sua carreira. Robert Rodriguez desenvolveu uma história  que simula uma continuidade de seu episódio em "Grande Hotel", e daí nasceu "Pequenos Espiões" ("Spy Kids", 2001). 

Revelando a sua outra face cinematográfica, Robert deixou de lado os tiroteios mexicanos, vampiros, professores alienígenas, mariachis e trouxe de volta o astro Antonio Banderas para fazer uma comédia familiar. UMA COMÉDIA FAMILIAR, GENTE. PASMEM!! O cara que só fazia filme violento e trash voltou depois de um hiato de 3 anos com um filme de comédia familiar. Enfim, "Pequenos Espiões" foi a ressurreição da carreira de Robert Rodriguez e a abertura do seu outro lado artístico. Vale destacar que Danny Trejo voltou e dessa vez no personagem que ele vai continuar até o fim da carreira de Rodriguez: Machete. Não bastando fazer um filme dessa linhagem, Robert Rodriguez fez no ano seguinte "Pequenos Espiões 2: A Ilha dos Sonhos Perdidos" ("Spy Kids II: The Island of Lost Dreams). A diferença crucial do primeiro para o segundo filme, foi que Robert teve contato com um senhorzinho simples de Hollywood, um cara chamado George Lucas, o grande pioneiro do cinema digital e criador de toda a saga "Star Wars". Esse breve encontro iluminou a mente de Robert para o cinema digital, o que ele aplicou fortemente em Pequenos Espiões 2. Mais uma vez, não bastando fazer uma comédia familiar e uma comédia familiar com efeitos especiais digitais, Robert fechou a trilogia com uma comédia familiar com efeitos especiais 3D. "Pequenos Espiões 3D: Game Over ("Spy Kids 3D: Game Over") foi produzido logo depois da estreia do segundo filme e saiu pouco tempo depois, no ano seguinte.

Vendo que ele terminou uma trilogia que mal começou e deixou outra de lado, Robert decidiu pegar o dinheiro ganho com a bilheteria de Pequenos Espiões para fechar a trilogia do mariachi em 2003. Robert cresceu vendo os filmes de Sergio Leone (ícone italiano dos spaghetti western) e uma grande homenagem, fez "Era uma vez no México" ("Once upon a time in Mexico").


O glorioso fim da trilogia do mariachi contou com Antonio Banderas mais uma vez, somado com a participação de Johhny Depp, a volta de Salma Hayek, a chegada de Willem Dafoe, Eva Mendes e a participação especial de Enrique Iglesias. Muita gente acha que o "Era uma vez no México" é uma ópera do trash norte-americano e não atribui essa obra a Rodriguez. Talvez porque ele tenha ficado 8 anos sem fazer filmes do gênero e justo quando ele resolve voltar é pra fazer filme de criança. O que reforça essa ideia, é que esse último filme tem mais ação e tiro do que toda a carreira do Robert Rodriguez junta.

Depois de um tempo fazendo curtas-documentários sobre produção cinematográfica, Robert volta em 2005 na companhia de 2 amiguinhos importantes, um novo e um antigo: Frank Miller e Quentin Tarantino. 



Esse novo filme, (dessa vez uma ode aos quadrinhos) "Sin City - A Cidade do Pecado" ("Sin City"), contou com Robert Rodriguez na direção geral e com Quentin na direção de duas cenas. Rodriguez não queria adaptar, mas sim "traduzir" os quadrinhos de Miller para o cinema. Foi nesse pensamento que ele perdeu a oportunidade de fazer o recente "John Carter - Entre Dois Mundos" ("John Carter", 2012). Cansado de tanta violência de novo, Robert Rodriguez foi fazer mais um filme infantil com efeitos especiais: "As Aventuras de Shark Boy & Lava Girl 3D" ("The Adventures of Sharkboy and Lavagirl 3D"). 


Apenas mais um filme colorido para crianças. Robert precisava voltar a fazer filmes trash violentos, ele não podia se manter nessa onda infantil. Creio que o único ponto de relevância do filme foi a revelação do ator Taylor Lautner, o cara que mais tarde veio a ser o lobisomem depilado da saga "Crepúsculo" ("Twillight", 2008). Vendo seu amigo nesse estado deplorável, Quentin Tarantino fez a segunda proposta irrecusável da vida de Robert Rodriguez: The Grindhouse Project. O projeto Grindhouse foi idealizado por Quentin pra fazer um filme duplo com Robert, o que culminou nos grandes sucessos "À prova de morte" ("Death Proof", 2007) e "Planeta Terror" ("Planet Terror", 2007) de Rodriguez.



"Planeta Terror" é claramente o filme mais trash de toda a carreira de Rodriguez. Estamos num apocalipse zumbi (bem nojento, mais nojento do que um apocalipse zumbi normal) onde tudo é gosmento e que os zumbis são criados por drogas e não por um vírus bizarro, radiação ou voodoo. A grande mancada de Rodriguez nesse filme foi não usar nenhum ator que já tinha trabalhado com ele antes. Filme do Robert Rodriguez (até então) sem a Selma Hayek ou o Antonio Banderas e outros, por mais trash e violento que seja, não vai ser a mesma coisa. A única pérola do elenco é o grande Bruce Willis, mas ainda assim fazendo um papel pequeno. Mesmo com tudo isso de "ruim", o filme deixou a sua marca: uma mulher que teve a perna decepada e a substituiu por uma metralhadora semi-automática. Cara, isso foi demais.

Mesmo depois de fazer mais um tributo à violência, Rodriguez voltou a fazer filme pra crianças (que eu esperava ser o último da sua carreira). "A Pedra Mágica" ("Shorts", 2009) chegou em 3D aos cinemas, sendo um fracasso de bilheteria. Alguns relatos diziam que as crianças saíam assustadas do cinema porque os efeitos especiais e 3D eram muito exagerados.


Se Robert Rodriguez tivesse lido Homem Aranha no tempo que ele conheceu o mundo do cinema digital com George Lucas, ele saberia que "com grandes poderes, vem grandes responsabilidades" e não usaria o cinema digital pra fazer esses filmes infantis. Rodriguez devia ter parado na trilogia de Pequenos Espiões. Mas foi aí que veio a sua mais nova e melhor trilogia...

Señores, estamos hablando de "Machete", "Machete Mata" e "Machete Mata Mais uma Vez" ("Machete", "Machete Kills", "Machete Kills Again"). 


Machete é de longe o melhor filme de Robert Rodriguez, depois da trilogia do mariachi. Rodriguez conseguiu reunir um dos melhores elencos de sua carreira mesmo sem o Antonio Banderas: Robert DeNiro, Steven Seagal,  Don Johnson, Jessica Alba, Michelle Rodriguez e Lindsay Lohan, além da grande estreia de Danny Trejo no papel principal. 


Rodriguez traz em "Machete" uma ode suprema à destruição e carnificina. Machete é um policial aposentado, ex-federale, que quer ser uma pessoa normal, depois de perdido sua esposa e filha para o trabalho. Robert DeNiro é o governador xenófobo do Texas, que vai fazer de tudo pra manter os mexicanos fora dos Estados Unidos, usando força bruta se preciso. Quando a intenção de um se junta com a mutreta de outro, os mexicanos legais e ilegais do estado do Texas se rebelam contra o sistema e partem pra cima com tudo, pro controle de imigração. Afinal, "they fucked with the wrong mexican". (eles mexeram com o mexicano errado). "Machete" foi lançado em 2010, mas "Machete Mata" já foi filmado e está em processo de pós produção com data de lançamento marcada para o dia 15 de setembro nos Estados Unidos. Na segunda parte da trilogia, a vilã da vez será La Chamaleón, interpretada pela Lady Gaga (!!!) e o presidente dos Estados Unidos vai ser representado por ninguém menos que Charlie Sheen (!!!!!!!!).

Eu poderia encerrar o post falando sobre "Pequenos Espiões 4" ("Spy Kids 4) que foi lançado logo depois de Machete, mas como eu disse: Rodriguez devia ter parado no terceiro.

Senhoras e senhores, o FEIPA CINE fica por aqui. A coluna de cinema mais linda da internet volta segunda-feira que vem :)

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